sábado, 20 de agosto de 2016

Olimpíada foi 'desperdício que deu certo',

Pesquisa inédita obtida pelo ‘Estado’ mostra que opiniões da população do País sobre os Jogos do Rio são ambíguas

Para os brasileiros, Olimpíada é um “desperdício que deu certo”. A ambiguidade da população em relação à Rio 2016 é a principal conclusão de pesquisa nacional do Ibope, que o Estado publica com exclusividade. Para 62%, os Jogos Olímpicos trazem mais prejuízos do que benefícios ao Brasil. Ao mesmo tempo, 57% creem que a imagem do País no exterior ficará mais positiva. A completar as contradições, “desperdício” e “esperança” são os dois principais sentimentos que os Jogos despertam.
A divisão também é explicitada na avaliação que a população faz da Rio-2016 até agora. Para 42%, a Olimpíada está sendo boa ou ótima. Outros 30% dizem que é “regular”. E 24% avaliam que é “ruim” ou “péssima”. Em resumo, está dando mais certo do que errado. Essa opinião reflete mais a organização do que os resultados esportivos: 62% disseram ao Ibope que é mais importante que o evento seja um sucesso – enquanto 31% preferem que o Brasil fique bem colocado no quadro de medalhas.
Pesquisa
Se não há convergência da opinião pública sobre os efeitos para o País como um todo, a divisão se inverte quando se pede aos entrevistados para eles avaliarem os efeitos dos Jogos para a cidade sede: 54% enxergam mais benefícios do que prejuízos. E essa opinião favorável é mais forte no Norte e Nordeste do que no Sudeste, por exemplo.
CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari tem uma hipótese sobre a ambiguidade da opinião pública: “As opiniões são ambíguas porque não se percebe claramente os benefícios que o País pode vir a ter com eventos dessa magnitude”. Para a pesquisadora, a recessão também explica contradições. “Há uma maioria que apoia, mas há dúvidas sobre o uso do dinheiro público em eventos desta natureza quando há tantas outras prioridades, principalmente considerando a crise econômica.”
DOIS GRUPOS
O Ibope cruzou as respostas de todos os entrevistados às seis perguntas sobre Olimpíada e encontrou dois grupos bem distintos. A análise de cluster junta ou separa pessoas em função das semelhanças e diferenças de suas opiniões. No grupo majoritário estão 58% dos brasileiros. Eles são mais propensos a crer no sucesso do evento, na projeção de uma imagem positiva do Brasil no exterior e mais inclinados a verem benefícios ao País (embora também vejam prejuízos).
O minoritário, com 42%, ao contrário, vê muito mais prejuízo, acha que a imagem externa do Brasil vai piorar e faz uma avaliação mais negativa do que positiva da Olimpíada até agora.
O grupo mais favorável à Olimpíada no Brasil tem presença mais forte no Nordeste, é mais católico e, quando pensa nos Jogos, tem sentimentos preponderantes como “esperança”, “alegria”, “orgulho” e “otimismo”. Para 70% deles, a Rio-2016 está sendo ótima ou boa, para 83% a imagem no Brasil no exterior vai melhorar após o evento e 53% acreditam que o País terá mais benefícios do que prejuízos com a organização dos Jogos.
Já os críticos são ligeiramente mais jovens do que a média, estão concentrados no Sudeste e no Sul do País, e se referem aos Jogos com expressões como “desperdício”, “vergonha”, “decepção” preocupação” e “desgosto”. Na maioria (53%), acham que a Rio-2016 está sendo ruim ou péssima. 61% deles afirmam que o Brasil vai sair com a imagem pior do que entrou na Olimpíada. A maior diferença, porém, é que 100% avaliam que a realização dos Jogos traz mais prejuízos do que benefícios para o País.
NUANCES
Os grupos não são monolíticos. Mesmo entre os “otimistas”, um terço acha que os prejuízos superam benefícios. E um quarto dos “críticos” acredita que, apesar dos pesares, a imagem do País no exterior vai melhorar.
Nisso, a Olimpíada é muito diferente da Copa do Mundo. O grupo do “Não vai ter Copa” ia à rua gritar e protestar. Dois anos depois, ninguém vê demonstrações de “Não vai ter Olimpíada” – talvez porque a mobilização do público por conta da política partidária seja menor hoje. Ou talvez porque tiro, judô, vela e mesmo o vôlei despertem menos paixão em menos gente. 
A pesquisa foi feita entre 11 e 15 de agosto, em 142 municípios de todas as regiões do Brasil. Foram 2.002 entrevistas face a face, com pessoas de 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, em um intervalo de confiança de 95%.
* COLABOROU RODRIGO BURGARELLI

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